Contos de Fadas...

Por trás dos Contos de Fadas
A importância das narrativas no aprendizado e na elaboração do autoconhecimento: uma visão junguiana, sua linguagem simbólica e o arquétipo do herói





REPRODUÇÃO

  Basta sentarmo-nos diante de um grupo, crianças ou adultos, e começarmos com, “Era uma vez...” que rapidamente o silêncio se faz presente, os olhos atentos brilham e os ouvidos apuradíssimos não nos dão nenhum indício de qualquer “Deficit de Atenção”. Isso porque, por meio de reis, rainhas, anões, gigantes, ogros, bruxas ou dragões, saímos do nosso mundo real e entramos num mundo onde tudo é possível.

Neste mundo mágico o que aprendemos não é o saber da sala de aula, o conhecimento teórico, intelectual, mas sim, o saber que nos ensina a lutar contra forças invencíveis, superar nossos medos, buscar nosso conhecimento, enfrentar os desafios, nunca desistir e, dentre tantos outros saberes, a identificar qual a hora certa para agir. Um verdadeiro alimento para nossa alma!
Os contos com suas figuras fantásticas evocam imagens internas em crianças ou adultos; isso porque elas transcendem o campo de visão e o que ela reconhece, nas imagens de mãe ou pai por exemplo, é seu valor simbólico como: colo, carinho, proteção, segurança, alimento, abandono, frustração etc.
“Assim, ao contarmos um conto é como se estabelecessemos uma ponte entre as imagens do conto, as nossas de contador e as do mundo interior da criança.” Jette Bonaventure. Por essa razão, cada vez que contamos um conto para nossas crianças é como se déssemos a elas e a nós mesmos um presente, pois, nesse momento, bem diferente da agitação do dia-a-dia, podemos praticar a vivência de nosso mundo interior.
Jung e a interpretação dos contos
O grande psiquiatra Dr. Carl Gustav Jung observou que certos “temas típicos” que apareciam nos sonhos e nas fantasias de seus pacientes eram repetições de mitos ou de contos de fadas, sem que houvesse qualquer influência cultural exterior causadora de seu aparecimento.
Procurou compreender esses temas oníricos usando o conhecimento da mitologia e assim propôs que essas imagens seriam reações independentes de qualquer tradição cultural e que dessa forma se deveria admitir a existência de elementos mitológicos no psiquismo inconsciente; a esses elementos Jung chamou de arquétipos.
Arquétipos seriam uma disposição estrutural básica presente em todos os seres humanos, como uma forma à espera de complementos que formariam as subestruturas de sentimentos, emoções, fantasias e ações. Segundo Dr. Jung esses temas ou motivos, os arquétipos, são esquemas básicos da psique humana e se encontram no “inconsciente coletivo” – a camada profunda do inconsciente.
Esses temas ou motivos que aparecem nos sonhos, presentes nos contos e mitos e se repetem em todos os tempos e culturas são: a grande Mãe, o Pai, a Criação do Mundo, Nascimento, Herói, Morte, Abandono etc.
Os arquétipos se manifestam por meio das imagens dos contos, sonhos ou mitos, sendo chamadas por Jung de Imagens Arquetípicas. É por meio delas que podemos entrar em contato com os conteúdos do inconsciente e como disse Jung “restabelecer a conexão consciente e inconsciente”, sendo que dessa experiência arquetípica é que ocorre a verdadeira cura da alma. Para que isso aconteça o arquétipo da grande mãe, por exemplo, ao aparecer num conto ou mito como imagem arquetípica tem que ser visto não apenas como um pensamento padrão, mais sim como uma experiência emocional daquele que o ouve ou lê.
Segundo Marie-Louise V. Franz, “só se essa imagem tiver um valor emocional e afetivo para o indivíduo ela poderá ter vida e significação”. Assim, segundo Jung, podem se compilar todas as grandes mães do mundo, que não significará absolutamente nada, caso se deixe de lado a experiência afetiva do indivíduo.
O efeito causado pelos contos é sempre muito positivo; toda magia do conto cria um momento especial de cumplicidade entre as pessoas. Os contos nos dão verdadeiras lições de como resolver problemas complexos da vida. Não é necessário acreditar nos feitos heróicos presentes neles, pois certamente isso não passaria pelo crivo da razão, no entanto isso não impede que atinjam outras camadas, para além do inconsciente.
As histórias falam “da realidade do ser humano, de sua busca, de seus traumas e dificuldades para lidar com pai e mãe, de seus desejos de ser herói, dos monstros que às vezes sente que tem que combater durante sua vida...” Jette Bonaventure. Mitos e contos, segundo Jung, “dão expressão a processos inconscientes e sua narração provoca a revitalização desses processos restabelecendo assim a conexão entre consciente e inconsciente”.


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